Condenação de Bolsonaro pode elevar crise entre EUA e Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, considerando-o culpado de liderar uma organização criminosa com o objetivo de impedir que Luiz Inácio Lula da Silva tomasse posse após as eleições de 2022.
Essa medida provavelmente aumentará as tensões com Washington, que nas últimas semanas tem usado tarifas e sanções para — sem sucesso — suavizar a posição do Brasil em relação a um dos parceiros políticos de Donald Trump e dos republicanos na América do Sul.
Uma decisão que, mesmo em nível nacional, corre o risco de transformar o ex-chefe de Estado em um símbolo da direita populista global e radicalizar a oposição, em um país ainda politicamente altamente polarizado.
Não é por acaso que o atual residente da Casa Branca foi um dos primeiros a reagir à notícia. "Estou muito insatisfeito com esta situação. Conheço Bolsonaro como líder de um país. E sempre o considerei uma pessoa muito justa, um homem verdadeiramente notável. Acho que o que aconteceu é algo muito ruim para o Brasil", disse Trump, fazendo uma analogia com sua própria história e o ataque ao Capitólio.
"É muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas falharam", completou.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, repetiu suas palavras, prometendo uma "resposta apropriada" de Washington à "caça às bruxas".
"Se [Trump] tomar novas medidas, isso é problema dele. Reagiremos à medida que as medidas forem adotadas", respondeu Lula, que chegou a bater com a mão na mesa durante uma entrevista na televisão, prometendo que seu governo se "oporia" ao projeto de lei de anistia para condenados por conspiração golpista, atualmente em discussão no Congresso.
"Se Trump vivesse no Brasil e tivesse feito o que Bolsonaro fez, ele também estaria sendo julgado. Porque aqui há lei para todos", argumentou o progressista, enfatizando que "há centenas de provas" que comprovam a culpa do líder de direita.
Contudo, a gravidade da crise em curso entre os dois países não passa despercebida aos observadores, com o clima econômico potencialmente agravando a situação.
Os Estados Unidos já aumentaram as tarifas sobre as importações do Brasil para 50% e, se o conflito se agravar com novas medidas, o país sul-americano poderá voltar ainda mais seu olhar para os países do Brics, fortalecendo os laços com Moscou e Pequim, com consequências inevitáveis para o equilíbrio geopolítico.
Enquanto isso, internamente, não faltaram críticas ao tom quase irônico dos juízes da Primeira Seção do Supremo Tribunal Federal, enquanto debatiam ao vivo pela televisão a extensão das penas a serem impostas a Bolsonaro e aos outros sete réus considerados o núcleo da conspiração.
Entre as declarações mais duras estava a do filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio, que denunciou um julgamento "com veredito pré-determinado", enquanto seu irmão, o deputado federal Eduardo, dos Estados Unidos, acusou: "Querem matar o Bolsonaro".
O governo de esquerda, no entanto, comemorou a sentença, chamando-a de "dia histórico para a democracia". A ministra Gleisi Hoffmann chamou a condenação de "vitória da soberania nacional", enquanto o ministro da Agricultura, Paulo Teixeira, exultou: "Hoje enterramos novamente a ditadura".
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